Network Q RAC Rally Championship

Escrito por #BarbaHard

Eu sempre fui fã de automobilismo, mas Fórmula 1 ou Indy nunca me chamaram tanto a atenção quanto o rally, apesar de eu gostar também dessas modalidades. A ideia de levar o carro, sua mecânica bem como a resistência física dos pilotos aos seus extremos em vez de apenas correr é algo que me empolga bastante. Talvez por esse motivo acabei me viciando num jogo de corrida que conheci por volta de 1997: o Network Q RAC Rally Championship ou, como eu simplesmente sempre chamei, Rally Championship.

Esse jogo é uma das coisas mais maravilhosas em que já coloquei a mão e se você, assim como eu, é um fã de automobilismo, vai adorar esse game. Quer saber o por quê? Então leia o resto, pois vou explicar tudo.

 
Introdução sensacional.
Apresentação e diferenciais
Capa do jogo.
Publicado pela Europress e desenvolvido pela Magnetic Fields (que também tem outros ótimos títulos do gênero, como Super Cars e Lotus Espirit Turbo Challenge), Network Q RAC Rally Championship faz parte de uma série de jogos que começou em 1988 com o Lombard RAC Rally, para os computadores Amiga e Atari ST. Logo depois, em 1993, veio o Network Q RAC Rally, para o MS-DOS e, em 1996, o presente jogo desta review. A série durou até 2002, quando começou a ficar obsoleta perto de títulos como o WRC Rally FIA World Rally, mas não vou me estender falando dos outros jogos para não perder o foco.

Rally Championship conta com três modos diferentes de jogo: o arcade, que tem cinco níveis de dificuldade e a necessidade de se passar por check points antes de terminar o tempo, tal qual em Daytona USA, time trial onde se corre contra o relógio, e individual, que é um rally individual, sem os outros concorrentes.

Dentro do jogo menu do jogo é possível ler uma breve história do RAC Rally que conta com algumas fotos, além de conferir o ranking de todas as edições do rally até o ano de 1994. Como o jogo é oficial, essas informações são uma boa fonte de pesquisa. Dá também para ouvir informações sobre os carros, que são narradas pelo Tony Mason. Mais à frente vou falar dele na seção "sons e música".

Há a possibilidade de se salvar os replays de cada corrida para assistir quando quiser. Falando nisso, o jogo também tem belíssimos trechos de filmagens reais que passam entre uma corrida e outra (pode-se pulá-los apertando qualquer tecla, apesar de serem pequenos). Entre as opções de controle disponíveis estão tanto o teclado, quanto um joystick ou um volante. Infelizmente ele não possui suporte para force feedback, mas na época essa tecnologia ainda estava engatinhando. O maior diferencial que existe nesse jogo, entretanto, é a possibilidade de se jogar via LAN local com até oito participantes, o que é realmente muito bacana para um jogo de MS-DOS. Infelizmente não pude testar esse recurso, mas se aparecer mais sete loucos por carros como eu, aceito fazer uma lan party e descrever a experiência aqui!

Sua apresentação e seus recursos merecem, com certeza, nota 9/10 pela preocupação em apresentar dados históricos do RAC Rally e dados técnicos dos carros. O recurso de multiplayer por LAN era algo bem raro na época.

Gameplay
O jogo conta com seis carros divididos entre os grupos A e N. No primeiro grupo temos o clássico Subaru Impreza Turbo que ilustra a capa, o belíssimo e potente Ford Escort RS Cosworth, o elegante, porém robusto, Renaul Maxi Mégane, o popular Volkswagen Golf GTi 16v e o exótico Škoda Felicia. No grupo N só existe um carro, o malaio Proton Wira.

Independente do modo escolhido, será preciso passar por todos os estágios do Royal Automobile Club Rally, cuja prova acontece no País de Gales, Grã Bretanha, e contabiliza no total 28 pistas diferentes. Nessa corrida terão que ser enfrentadas estradas de terra, barro, neve, cascalho e, às vezes, asfalto. Mas não para apenas nisso: condições climáticas que variam de uma chuvinha chata ao entardecer até uma nevasca à noite fazem parte do repertório de desafios presentes. Claro que para enfrentar condições tão adversas, o carro tem que estar bem preparado e, por isso, a cada final de percurso é possível personalizar a parte mecânica do seu automóvel, trocando-se o tipo de pneu, deixando a suspensão mais ou menos macia, alterando-se a proporção das marchas, a resposta do volante etc. E tudo isso influencia na forma como seu carro vai funcionar, podendo melhorar vários aspectos como adicionar mais estabilidade e diminuir as derrapagens, bem como piorar também caso os ajustes sejam mal feitos.

Outra coisa muito boa é o sistema de danos. Apesar do carro não amassar (um dos termos contratuais impostos pelas montadoras ao licenciar seus produtos para um jogo é o de não apresentar o carro batido), se ele capotar, bater ou até mesmo tiver uma mecânica não preparada para a pista (como deixá-lo muito baixo num terreno de barro), a embreagem vai chiar, as lanternas não vão funcionar quando for preciso ou, pior ainda, alguma biela poderá se romper e adeus corrida. A cada dois ou três percursos existe uma parada (check point, no linguajar técnico) para se consertar o carro, porém nesse momento o que vale mais é o pensamento estratégico, pois assim como num rally real, não há tempo para se arrumar tudo e o jogador terá que saber escolher bem os serviços necessários. O grande segredo é não bater muito para não arruinar a mecânica, do contrário é possível ficar na seguinte situação: ter apenas 15 minutos de parada e ter que arrumar a caixa de câmbio, a direção, o motor e a parte elétrica, o que obviamente não dá tempo de ser feito.

Os controles são bastante responsivos e tanto num volante sofisticado quanto nas setinhas do teclado a diversão é garantida. A troca de marchas é bastante parecida com o que acontece com um carro de verdade, só senti falta da embreagem e do freio de mão, que seriam úteis para se fazer alguns drifts nas curvas mais acentuadas, mas creio que nenhum jogo da época tinha esses recursos (e, de fato, só lembro de ter visto isso na recente série Forza Motorsport). 

Apesar de tanta coisa boa, quem não está muito familiarizado com mecânica e só quer correr encontrará dificuldades no modo arcade, pois é necessário ajustar o carro da mesma forma. Infelizmente por isso darei nota 8/10, apesar de no fundo achar que merecia mais.

Gráficos
Espetacular. É tudo o que posso falar sobre um jogo de 1996. A equipe da Magnetic Fields fez um ótimo trabalho nessa parte. O painel do carro é, na verdade, uma foto real, mas mesmo assim tem uma aparência bastante natural num cenário tridimensional. O limpador de para-brisa funciona perfeitamente e dá um toque de realismo a mais quando chove ou neva. E falando nas condições climáticas, elas são bem retratadas e detalhadas, podendo atrapalhar a visibilidade tal qual numa corrida de verdade. Em fases com chuva até mesmo troveja. Uma outra coisa interessante é que se o carro estiver limpo na largada e a pista for de barro, ele vai começar a ficar sujo com o tempo.

Ao redor das pistas podemos ver curiosos e fotojornalistas assistindo a corrida. Apesar de serem um objeto 2D chapado (como os inimigos de Doom) e não se mexerem, é uma coisa interessante de se ver e dá um toque a mais de realidade, já que num rally sempre aglomeram curiosos, jornalistas e fiscais de prova em alguns trechos.

Merece uma nota 9/10 pela preocupação com o realismo.

Sons e música
A trilha sonora é espetacular. Como ela foi gravada no formato Redbook Audio, coloquei o CD do jogo para tocar no meu som enquanto escrevo essa análise. Elas foram feitas por dois caras chamados Darren Ithell e Dave Sullivan e tem um estilo eletrônico com uma pitada de eurohouse, que combina bem com o jogo e sua ambientação europeia.

Os efeitos sonoros também são um show à parte. O ronco do motor do carro é fiel ao verdadeiro na medida do possível. É possível ouvir até o ar do turbo escapando quando se está correndo com o Escort Cosworth, por exemplo. Já outros sons, incluem a interação do carro com o terreno bem como barulhos característicos de alguns danos. Por exemplo: durante uma corrida na neve ou no cascalho, os sons da neve escorregando pelos pneus ou do cascalho saltando serão ouvidos, assim como uma embreagem ruim fará um barulho arrastado ao se trocar de marchas. Quando o carro capota, ou os faróis se quebram numa batida, ouve-se o som do vidro se despedaçando e caindo na pista.

Outro som que será ouvido é a voz do seu co-piloto lhe indicando a próxima curva ou o próximo barranco na pista que fará o carro saltar. E falando nele, uma outra coisa me surpreendeu e só descobri recentemente é que a essa voz foi gravada pelo Tony Mason, ex-copiloto de rally e ex-apresentador do programa Top Gear da BBC 2, o melhor programa de televisão sobre carros do mundo, assinei a Netflix só para assisti-lo. Valeu, falou. Atualmente, Mason participa das séries Off the Road e Classic Car Club do Discovery Channel.

Geralmente sou exigente em minhas análises, mas considerando a época em que o jogo foi lançado e todos esses detalhes sonoros, sinto-me obrigado a dar a primeira e, talvez, a única nota 10/10 da minha vida.

Conclusão
Como foi dito no começo, a série como simulador ficou obsoleta com a estreia de títulos mais novos. Todas essas notas dadas foram unicamente pensando nos recursos da época. Se deseja um simulador bem realista, invista em jogos de rally mais modernos para PC. Mas conhecer esse grande jogo é uma boa também. Ele é bastante divertido e cumpre bem a sua missão. As pistas são muito bem detalhadas, a trilha sonora é muito boa, os gráficos são ótimos e envelheceram bem. Se você é um fã de automóveis e corridas em situações extremas, vale a pena se divertir com ele. E se possível, tente jogar via lan (e me convide para uma partida).

Agora vamos recapitular as notas e dar o veredito final:

Apresentação e diferenciais: 9/10
Gameplay: 8/10
Gráficos: 9/10
Sons e música: 10/10

Nota final: 9