Full Throttle

 Publicado por: #BarbaHard

Durante os anos 90, um gênero de jogo foi muito popular nos PCs: o adventure point and click. Nesse estilo, o jogador deve resolver mistérios e puzzles que aparecem durante uma história narrada.

Objetos que se tornam pistas, conversas que revelam coisas importantes na narrativa, quebra-cabeças a se resolver para sair de situações... Tudo isso faz parte desse tipo de jogo que marcou uma década.

Talvez o mais icônico desses títulos tenha sido Full Throttle: uma mistura de filmes cults de moto com Mad Max que conta com uma narrativa brilhante e gráficos bem detalhados para a época.

Então se prepare, pois nesta review vamos pegar nossas motos envenenadas e salvar a Corley Motors de um empresário inescrupuloso.



Enredo
Situado num mundo futurista e decadente, onde carros se transformaram numa espécie de hovercraft, Full Throttle narra a história do envolvimento de Ben, líder de uma gangue de motos, veículos que ainda resistem a tecnologia e se utilizam de rodas para se locomoverem, com Malcolm Corley e sua companhia, a Corley Motors, que aparentemente é a última fabricante de motos do mundo.

Num golpe de sorte, Malcolm se encontra com a gangue durante uma viagem e resolve contratá-los para serem seus guarda costas. Ben, entretanto, parece não gostar da ideia e tem um pressentimento ruim sobre o que está por vir. E não é para menos, pois logo ele está no meio de uma conspiração comandada pelo vice-presidente Ripburger, que mata Corley e começa seu nefasto plano: transformar a empresa em uma fábrica de vans e peruas.

A introdução acima dá o tom do enredo, recheado de conspirações. A trama é muito bem construída, apesar de alguns clichês óbvios, mas constantemente o jogador se vê curioso o suficiente para avançar na história e chegar ao final do game, o que é essencial para esse tipo de jogo.

O pessoal da LucasArts certamente tinha alguma bênção divina de George Lucas para ter uma ideia tão criativa assim. A premissa é simples e beira até um pouco a inocência: dar um golpe para transformar uma fábrica de motos em fábrica de utilitários parece algo bobo, mas essa ideia se desenvolve de uma forma absolutamente fantástica.

Nota: 8/10

Gráficos
O jogo foi feito na engine Scumm, proprietária da Lucas Arts. Apesar da maior parte do que se vê na tela serem tradicionais desenhos animados em 2D, existem uma série de objetos pré-renderizados em 3D que, contudo, não destoam com o estilo cartoon adotado.


As animações são bem feitas e, inclusive, o lipsync é praticamente perfeito com o ótimo trabalho de atuação vocal dos atores que deram vida aos personagens animados. Isso era algo bem raro para a época.

Mas infelizmente nem tudo é excelente. A resolução, mesmo para a época de lançamento do jogo, era um pouco baixa, o que deixa os personagens e o cenário um pouco pixelizados. É certo que existia limitações de hardware na época, e também seria injusto dizer que isso conta vários pontos negativos, pois o conjunto inteiro é tão bom e envolvente que a baixa resolução passa a ser apenas um detalhe que até certo ponto dá até mesmo um charme à estética do jogo.

Nota: 8/10

Gameplay
Como já dito, trata-se de um adventure point and click, o que significa que o jogador deve procurar por pistas nas telas e clicar em cima delas. Ao clicar em um objeto e segurar o botão do mouse, abre-se um menu de ações que vão desde falar/comer até chutar/esmurrar. Mas Full Throttle não se prende só nisso.

Em algumas partes do jogo, é possível controlar a moto de Ben com o teclado, como num jogo tradicional com veículos. Às vezes é necessário lutar com outras gangues enquanto se está correndo pelas estradas, o que lembra um pouco Road Rash, mas com características próprias: enquanto para derrubar alguns motoqueiros é preciso apenas um bom taco de basebol, para outros é necessário ser mais inteligente, como jogar adubo nos olhos do adversário. Infelizmente essa parte é um pouco travada e demanda muitas tentativas e erro.

Os vários puzzles que aparecem durante o game são inteligentes, enquanto outros são óbvios. O problema é que às vezes o jogador pode travar em algum ponto, pois é preciso ficar bastante atento às conversas e aos detalhes dos cenários.

Nota 7/10

Sons e música
Essa sim é a melhor parte de Full Throttle! Sua trilha sonora foi feita pela banda de rock The Gone Jackals e o tema é uma das melhores músicas que já ouvi: Legacy.


Os efeitos sonoros são ok e o sound design é algo que queremos ouvir vindo de uma empresa cujo dono é o George Lucas, mas deve-se destacar a atuação vocal dos personagens, que não é maravilhosa, mas certamente muito acima dos padrões da época.

Nota: 8/10

Conclusão
Full Throttle é um jogo que marcou uma época. Isso é inquestionável. Eu diria que é um clássico obrigatório para quem se considera um retrogamer de computadores. Se quem estiver jogando gosta de resolver mistérios e tem bastante paciência, esse então é um jogo adequado a esse tipo de perfil.

Infelizmente, devido à natureza do gênero adventure, o fator replay é bastante baixo neste título, pois só existe um final possível. De fato, é impossível até mesmo morrer, mas isso é algo inerente a todos os jogos de adventure da LucasArts e, esse fato já foi até mesmo bastante satirizado na série Monkey's Island, da mesma produtora.

Recapitulando:

Enredo: 8
Gráficos: 8
Gameplay: 7
Sons e música: 8

Nota final: 7,75