The Great Giana Sisters

Publicado por: #BarbaHard!
O ano é 1987. A Nintendo está preparando o lançamento de seu novo jogo em território americano: Super Mario Bros. 2. Mas do outro lado do Atlântico, no continente europeu, duas irmãs estão dando o que falar em revistas especializadas em games para computadores. Elas são as Giana Sisters, o clone feminino de Super Mario Bros., e fizeram sua estreia no Commodore 64, um ilustre desconhecido no Brasil.

Neste jogo, desenvolvido por Armin Gessert e Manfred Trenz na Time Warp Productions e distribuído pela Rainbow Arts, você assume o papel de Giana (curiosidade: no título de abertura está escrito erroneamente “Gianna”), uma garota punk que está tendo um pesadelo, onde precisa atravessar 32 fases cheias de monstros e coletar diamantes, tudo isso para salvar Maria, sua irmã (acabo de reparar que Gianna e Maria são os respectivos nomes femininos para Luigi e Mario). Ao contrário de Super Mario, não fica bem claro do que a Maria tem que ser salva, pois ela não está em poder de nenhum monstro malvado. Inclusive, pode-se jogar com a moça que deveria estar em apuros caso use o modo de dois jogadores. Entretanto, há uma explicação oficial para isso: ambas estão conectadas em seus sonhos e tentando escapar desse mundo. Explicação essa que até agora não fez muito sentido na minha cabeça.

Trata-se de um side-scroller de plataforma, mas o que mais chama a atenção é a sua similaridade com Super Mario Bros., o que rendeu a Giana Sisters a alcunha de “o Super Mario Bros. do Commodore 64”.


Vamos agora analisá-lo e ver se vale a pena ou não jogar essa pérola!

Apresentação e diferenciais
O jogo tem opção para dois jogadores e a opção de se gravar o highscore em disco. Acredite, essa última opção é um diferencial muito bacana para a época. Os computadores não tinham disco rígido, todo software precisava ser rodado em fitas K7 ou disquetes, para se ter uma ideia.

Além disso, temos essa linda capa alemã para o jogo:


Uma belíssima artwork, diga-se de passagem!
Mas, por outro lado, na Inglaterra foi usada esse treco aqui no lugar:

Cruzes!
E essa segunda capa ainda traz a frase "the brothers are history!", que em bom português significa "os irmãos já eram!". U-a-u, é clara provocação aos encanadores da Nintendo. Não fosse a arte dessa segunda capa, poderíamos ter uma nota maior.

Nota: 6/10

Gameplay
E pior que era compatível com o Atari 2600!
Antes de tudo preciso explicar uma coisa: o controle mais comum de Commodore 64 tinha apenas um botão, sendo bastante parecido com o do Atari 2600. Até existiam outros modelos com dois ou três botões, mas não era o que a maioria dispunha em casa. Talvez por isso os desenvolvedores resolveram que para a personagem pular devia-se acionar o comando para cima e não apertar o botão, que ficou reservado para atirar quando se pegasse os power ups.

Usar o direcional para pular pode parecer estranho num jogo de plataforma, mas funcionou perfeitamente aqui. O pulo é leve, tem boa resposta e é totalmente controlável. Testei o jogo em um emulador e além de ter usado um joystick normal, também experimentei nas setinhas do teclado. Mesmo assim foi surpreendentemente fácil tomar o controle de Giana. Uma vantagem do emulador é que você pode remapear os comandos e colocar o pulo em alguma outra tecla ou botão (caso esteja usando um joystick). Mas não foi o caso, quis sentir da forma mais parecida possível como seria jogar no hardware original.

Durante as fases, você pode pular em blocos amarelos, que revelam diamantes ou power ups, tal qual os blocos de interrogação dos jogos do Mario. Os itens são os seguintes:

  • Fire wheel: Transforma Giana em uma punk, seu novo penteado permite que ela possa quebrar plataformas de tijolos ao pular sob eles (talvez seja o excesso de laquê), idêntico ao Mario depois de pegar o cogumelo.
  • Raio: Giana ganha a habilidade de atirar uma pequena bolha (chamada no manual de Bubble Dream) que abate seus inimigos. Basicamente faz o mesmo que a Fire Flower do Super Mario Bros.
  • Raio duplo: A bolha atirada por Giana agora pode ricochetear pelo cenário.
  • Morango: Agora a bolha é mirada automaticamente nos carinhas maus.
  • Bomba: Ao pressionar a tecla de espaço, mata todos os inimigos que estiverem na tela.
  • Relógio: Para o tempo e congela os inimigos quando a barra de espaço é pressionada.
  • Gota d’água: Protege Giana contra fogo, funciona com a barra de espaço também. 
  • Pirulito: Dá uma vida extra.
Apesar de ser um clone, o jogo introduz habilidades diferentes de Super Mario Bros. Outra diferença é que ao esbarrar em um inimigo, a morte é instantânea. A pobre Giana não perde seu penteado radical, simplesmente cumpre seu destino como ser vivo (apesar dela tecnicamente ser um conjunto de zeros e uns… Mas, qual é, somos um conjunto de átomos também!).

A boa resposta de controle, apesar das limitações do Commodore 64, os power ups e o design das fases, que será discutido a seguir, tornam o jogo muito viciante. Dificilmente você vai querer jogar apenas uma partida.


Nota 8/10.
 

Gráficos e level design
Olhe, um Gumb... UMA CORUJA!
A primeira coisa que você nota ao começar a primeira fase é que eles copiaram o jogo do Mario inteiro se inspiraram muito nos gráficos de Super Mario Bros. Ei, o que é aquilo, uma coruja ou um Gumba de chifres? E essa segunda fase subterrânea? Sério mesmo que dá para pular a fase inteira passando por cima dela? A única pena é que não tem uma warp zone no final… Mas logo nota-se não é apenas uma cópia fajuta, existem novos desafios, como plataformas que se desmancham. Tudo dosado de forma que o jogo não se torna difícil e maçante, nem muito fácil e enjoativo, proporcionando desafio na medida certa.

As fases são cheias de passagens secretas, o que garante que a possibilidade de se jogar o mesmo nível por muito tempo e não descobrir tudo o que ele esconde. Existem bônus escondidos em buracos que aparentemente podem te levar à morte, assim como warp zones escondidas em blocos que te levarão 10 níveis adiante e isso é simplesmente incrível.

Os “chefões” ficam em fases subterrâneas. Temos e atravessar uma ponte e desviar dele, mas também podemos usar as bolhas para abatê-los. Existem dois tipos deles nesse jogo: uma lagosta gigante, que pode ser desviada pulando por cima dela; e uma espécie de lagarto, dinossauro ou dragão que voa, onde basta passar por baixo dele para desviar e passar de fase.


A falta de criatividade nos gráficos infelizmente pesaram muito pra mim. Os desenvolvedores poderiam ter pelo menos disfarçado que a intenção era copiar Super Mario Bros. Por conta disso, sem choro nem vela, a nota é 7/10, apesar de eu querer no fundo querer dar mais de 8 só pela diversão que me proporcionou.

Já vi essa ponte antes...

Sons e música
A música não é tão recordável quanto qualquer tema de Super Mario, mas é grudenta e ao mesmo tempo divertida. Soa muito bem no SID, chip responsável pelo som do Commodore 64. Os efeitos sonoros também são apropriados para o estilo de jogo. 


Nota: 8/10.

Conclusão
Vale a pena conhecer "The Great Giana Sisters". Sendo brasileiros, vale mais ainda. É como se entrássemos em contato com outra cultura, afinal o jogo só fez barulho mesmo na Europa. Também pode servir como uma porta de entrada ao Commodore 64 que tem muitos jogos bons, mas que infelizmente nunca chegou oficialmente ao nosso país. Além disso tudo ele é viciante, apesar da falta de criatividade dos autores que copiaram descaradamente o primeiro Super Mario Bros. Agora, vamos recapitular e ir à nota final:


Apresentação: 6/10
Gameplay: 8/10
Gráficos e level design: 7/10
Sons e música: 8/10

Nota final: 7,25

Legado
Antes de terminar esse artigo, gostaria de apresentar mais algumas informações: com tantas coisas em comum com o principal jogo da Nintendo à época, a empresa japonesa se sentiu incomodada e ameaçou processar os criadores Armin Gessert e Manfred Trenz. Por conta disso, "The Great Giana Sisters" foi retirado das lojas, tornando-se assim uma espécie de Santo Graal dos colecionadores de micros antigos, pois as cópias originais são extremamente raras. Até o fechamento dessa análise, havia uma versão para Commodore Amiga sendo vendido no eBay por £ 5 mil, o que dá aproximadamente R$ 20 mil.

Havia naquele tempo uma sequência sendo feita também para o Commodore 64, onde dessa vez Giana e Maria lutariam em um cenário futurista, cheio de robôs. Mas com a pressão judicial da gigante japonesa, os produtores acabaram trocando os protagonistas e o jogo passou  a se chamar "Hard'n'Heavy", não tendo qualquer ligação narrativa com "The Great Giana Sisters".

Curiosamente elas voltaram recentemente e não apenas uma, mas duas vezes… E o mais inusitado: elas apareceram em consoles da Nintendo! "Giana Sisters DS" é exclusivo da plataforma móvel da Nintendo e foi lançado em 2009, considerado uma sequência espiritual, -- ou até mesmo um reboot --, do jogo de 1987. Depois veio outro para PC, o "Giana Sisters: Twisted Dreams", lançado em 2012. Esse jogo viu os consoles em 2013, onde chegou para Xbox 360 via XBLA, PS3 via PSN, e também deu as caras no no eShop do Wii U. Vale a pena conferir esses novos também.


Pelo menos agora elas ficaram bonitinhas na capa.


 Grande parte dessa análise teve como fonte de pesquisa a revista Zzap de Julho de 1988.